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http://www.publico.pt/portugal/noticia/ricardo-salgado-e-um-doce-1669731
A reportagem da RTP foi uma inacreditável lavagem de Salgado. Entrou na máquina um banqueiro com fama pública de trafulha e de burlão e, após 30 minutos de ensaboadela, saiu um banqueiro azarado, tramado pela família e pelo Banco de Portugal.
No sábado a RTP emitiu uma reportagem de Jorge Almeida intitulada Ricardo Salgado, o ex-Dono Disto Tudo. Eu não conheço o jornalista Jorge Almeida nem quem lhe propôs o trabalho ou arranjou os entrevistados. Não sei se ele é bom, se ele é mau ou se é assim-assim. Mas isto eu sei: a sua reportagem foi uma inacreditável lavagem de Salgado. Entrou na máquina um banqueiro com fama pública de trafulha e de burlão e, após 30 minutos de ensaboadela, saiu um banqueiro azarado, tramado pela família e pelo Banco de Portugal.
A questão não está no anódino texto em off – está nos frisantes depoimentos. Valia a pena alguém fazer uma reportagem sobre a reportagem, para percebermos como é que os convidados foram ali parar e as ligações que cada um tem a Salgado e ao BES. A primeira frase sai da boca de Mário Soares: “Muitas pessoas em Portugal já perceberam que foi uma grande asneira ter arranjado este sarilho todo.” Reparem na expressão “arranjado este sarilho”: não foi Salgado que desvairou, foi o Governo que o ensarilhou. Mais à frente, Soares esclarece: “Eu estou convencido que ele não disse a última palavra. E quando o disser, as coisas vão ficar de outra maneira.”
O jornalista Jorge Almeida também deve acreditar nisso, já que a reportagem termina assim: “Ricardo Salgado tem pela frente a maior batalha da sua vida: limpar o nome da sua família e provar, no banco dos réus, a sua inocência.” E para isso, nada como uma reportagem composta pelo depoimento de 12 personalidades, que até dá para exibir como prova de defesa. Com excepção das jornalistas Maria João Babo e Maria João Gago, autoras do livro O Último Banqueiro, que mantêm uma certa distância em relação a Salgado, todos os outros entrevistados ou o defendem ou estão incrédulos. Jorge Almeida não conseguiu encontrar uma alminha – uma só – que se sinta enganada, roubada, injustiçada e que resolva dizer cobras e lagartos de Ricardo Salgado. O jornalista só encontrou amigos.
E que amigos: Mário Soares, Miguel Veiga (que define Salgado como “um homem com mão de ferro em luva de veludo” e classifica a acusação de ilegalidades de Carlos Costa como “tendenciosa, prematura e injustificada”), Murteira Nabo, Carlos Monjardino, os “incrédulos” funcionários José António Antunes e Carlos Silva (“as pessoas ficaram com um género de orfandade”, diz o secretário-geral da UGT), Michael de Mello (que chama “pessoa muito impulsiva” a José Maria Ricciardi, acusando-o de levar a discussão da sucessão da família para a rua), Eduardo Catroga (“acho exagerada a imputação de responsabilidades a nível de grupo apenas ao doutor Ricardo Salgado”), e ainda dois veteranos da banca espanhola, Jaime Carvalhal e Emilio Ybarra, a declararem em uníssono a sua “grande surpresa” e a lamentarem a “tragédia”, “não só para família e accionistas, mas também para Portugal e para a economia portuguesa”. Nem sequer falta uma cotovelada ao Crédit Agricole, através de uma publicidade do próprio banco francês: “A crise actual não vem dos bancos, vem dos Estados.”
O programa da RTP onde a reportagem passou chama-se Linha da Frente, mas a mim pareceu-me mais a linha de retaguarda de Salgado a funcionar a todo o vapor. Preparemo-nos, que o spin já aí está: o governo e a guerra familiar foram os responsáveis pela queda do BES, tivesse o mundo mantido a confiança em Salgado e o banco estaria rijo que nem um pêro, e blá, blá, blá. Lógica, a coisa tem pouca. Só que a falta de vergonha distribui lucros muito elevados.
Aposentado , Abrantes
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Por falar em " doces "...por mim, posso dizer que gosto muito de «« DOCES »», mas... dos bem adocicados...e nada mesmo dos " amargosos "...e então dos que sabem a " salgadinhos "nem vê-los...vem isto a propósito, aqui da opinião de João Miguel Tavares, que, subscrevo, embora deva acrescentar...talvez o programa da RTP " Linha da Frente " emitido no sábado - 13/9 tenha duas partes e naquele dia tenha sido emitida só a primeira parte, pois custa-me a acreditar que, o canal de serviço público de TV, possa ter actuado de modo tão parcimonioso, na abordagem, na actualidade, de uma figura como o sr. Ricardo Salgado...ver ali certas pessoas "armadas!" em testemunhas de defesa não é para mim surpresa(vg constatar o tal dito de MS "arranjado este sarilho", percebe-se bem onde ele quer chegar)..!!!!